Arre burro
Põe-te ao caminho
Tu és casmurro
E eu não quero andar sozinho.
Onde me levam os teus passos
Não entro noutros abrigos
Vou sem esperança de abraços
Sou homem de poucos amigos.
Dou de caras com o frio
Um frio que até embaça
Ladram os cães no casario
Enquanto a caravana passa.
Não basta o frio, a chuva cai
Vou por aqui na tenho escolha
Pois quem pela chuva vai
Sabe que os seus passos, molha.
Zurra meu burro
Que eu te entendo
Pois já na corro
E a zurrar já na aprendo.
Eu e tu nestas paisagens
Com manadas e rebanhos
São nestas curtas viagens
Que os meus sonhos são tamanhos.
Espreita o sol, é para mim!
Os meus direitos são iguais
A natureza canta assim
Já se ouvem os pardais.
Meu burro zurra
E eu caladinho
Canta a caturra
Cá dum vizinho.
E já vejo no horizonte
Saudade e deslumbramento
Estou chegando ao meu mote
Em cima do meu jumento.
Ai que falta já tão pouco
Na tarda nada tamos além
O meu burro não é louco
Na nossa casa é que se está bem.
Octávio S.Cardoso